Pole Position

Pole Position

Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Não é dinheiro que impede união de projetista famoso e Hamilton na Ferrari

A conversa de que Adrian Newey poderia juntar forças com Lewis Hamilton na Ferrari, formando uma superequipe com o piloto mais vencedor da história, o projetista mais vencedor da história, no time mais vencedor da história surgiu praticamente junto dos boatos de que ele estava de saída da Red Bull, confirmados no início de maio. Poucas semanas depois, contudo, a história já tinha perdido força, e já desde meados de julho é dado como certo que seu futuro está longe de Maranello e muito mais perto da Aston Martin.

Mas por que essa união de três grandes nomes da Fórmula 1 não foi possível?

É fácil justificar com o investimento alto que a Aston Martin se propõe a fazer com tudo o que pode levar o time a lutar por títulos, tendo à frente o empresário Lawrence Stroll, que já teria atraído ao time um investimento de pelo menos 600 milhões de dólares desde que assumiu o controle da ex-Force India em 2019.

Mas as conversas com a Ferrari não teriam chegado nem aos números. Adrian Newey sabe que não faz milagre sozinho e trouxe consigo uma lista de profissionais que queria ter junto dele em sua futura equipe. Essa lista chegou em um momento ruim para a Ferrari, que já tinha ido forte ao mercado para buscar reforços em 2023, quando o chefe Fred Vasseur entrou no cargo.

Para entender o real impacto disso é preciso compreender como funciona a regra do teto orçamentário, que limita todos os gastos que a equipe tem com performance ao longo de uma temporada. O salário dos engenheiros entra nesta conta, e as contratações que a Ferrari já tinha feito quando Newey surgiu no mercado foram concluídas tendo como base o máximo que a equipe poderia gastar com pessoal.

Cabe um parênteses aqui: os salários dos pilotos e os outros três salários mais altos do time não entram, então os vencimentos do próprio Newey não seriam um problema. A questão era acomodar todos os já contratados dentro do teto com a adição dos recomendados por Newey.

Além disso, a FIA agora está controlando bem mais de perto uma brecha que algumas equipes estavam usando, de usar a expertise de profissionais pagos por outros braços de competição. A Ferrari, por exemplo, voltou ao Mundial de Endurance recentemente e isso tem a ver diretamente com a adoção do teto orçamentário na F1. Afinal, é uma maneira de aproveitar profissionais que teriam de ser demitidos para manter a equipe de F1 dentro do teto.

Isso em si não é proibido, desde que estes profissionais não atuem de forma alguma para melhorar a performance na F1. E é essa atuação que a FIA está olhando mais de perto desde o final do ano passado.

Então a Ferrari já tinha efetuado contratações importantes e a brecha que eles poderiam vir a utilizar já tinha sido fechada pela FIA quando Newey apareceu com sua lista de contratações. Foi isso que esfriou as negociações entre ambas as partes ainda em maio.

Continua após a publicidade

Aston Martin não é só atrativa financeiramente

Fábrica da Aston Martin foi totalmente renovada nos últimos anos
Fábrica da Aston Martin foi totalmente renovada nos últimos anos Imagem: Astron Martin/Divulgação

A Aston Martin, por sua vez, é uma equipe que ainda está construindo seu quadro de funcionários. Eles contrataram pesado nos últimos anos, pegando muitos profissionais de Mercedes e Red Bull, mas vinham de uma estrutura bastante incipiente. Então é bem mais provável que a Aston Martin consiga atender às demandas de Newey que a Ferrari no sentido de contratar quem ele quer que faça parte de sua equipe.

A Aston Martin também é atrativa em outros sentidos. Lá, Newey trabalharia com um dos túneis de vento mais avançados da F1, juntamente com a McLaren. Na verdade, toda a fábrica do time é nova, tendo sido entregue em parte ano passado e em parte mês passado.

Além disso, eles terão uma parceria para ser a equipe de fábrica da Honda a partir de 2026. E Newey trabalhou com os japoneses nos últimos anos na Red Bull. Foi uma parceria que funcionou muito bem, ao contrário do que tinha acontecido com a Honda e a McLaren, e isso aconteceu muito em função do diálogo entre os projetistas do carro e da unidade de potência. No corpo técnico da Aston Martin estão atualmente profissionais que já atuaram com Newey, como Dan Fallows e Eric Blandin.

A Aston também pode oferecer a Newey a possibilidade de trabalhar em super carros de rua, algo que atrai o engenheiro. Ele, inclusive, trabalhou na concepção do Aston Martin Valkyrie quando ainda estava na Red Bull.

Continua após a publicidade

Dá para entender que, para os torcedores, esse projeto da Aston Martin possa parecer uma eterna promessa, mas tudo o que está sendo feito vai no caminho certo visando o futuro. Por isso não é de se espantar que seja uma parceria vantajosa de ambos os lados. E não só do ponto de vista financeiro para a conta de Newey.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes